Psico-Oncologia
História do câncer e novas
indagações
Câncer
é denominação genérica para modificações em estruturas celulares que resultam,
de modo geral, em formações tumorais. A especificidade dessas formações é
sua capacidade de migrarem, por via sangüínea ou linfática, para outros órgãos
do corpo e aí se estabelecerem, gerando novos grupamentos celulares. Trata-se
das metástases que, na maior parte dos casos, são as verdadeiras causas da
morte do paciente. Não existe câncer benigno, porém existem diferentes graus de
malignidade e agressividade dos tumores. O órgão primário ou inicial em
que se verifica a transformação, o tamanho e natureza do tumor e o grau de
invasão deste para outros órgãos constituem-se em critérios sobre a gravidade e
prognóstico da cada caso. É a partir desses critérios que se definem
condutas e tratamentos que, a cada dia, nos mostram que câncer e morte não são
sinônimos.
Mas
houve um tempo em que o câncer era inevitavelmente fatal. Essa realidade fez
com que se desenvolvessem, no imaginário das pessoas, medos intensos em relação
a essa doença. Até há pouco tempo, não era difícil encontrar pessoas que sequer
pronunciassem a palavra câncer, o que pode ocorrer ainda hoje àqueles que não
têm acesso adequado à informação.
É
comum estarem presentes: o medo da morte, imaginada como inevitável; o medo do
sofrimento dos tratamentos; o medo do desfiguramento, quando a doença evolui; o
medo da dor, muitas vezes pensada como sem possibilidade de controle.
O
medo em relação ao câncer tem conseqüências importantes. Entre elas, o
afastamento da possibilidade de diagnóstico precoce. Hoje sabemos que
diagnóstico precoce e adequada intervenção imediata são elementos decisivos,
que chegam a definir o prognóstico da doença. Em muitos casos, representam o
diferencial para a cura.
O
medo também pode ser responsável pela existência de grande sofrimento psíquico.
Vale lembrar que o sofrimento, geralmente, não se restringe ao paciente apenas,
mas, em muitos casos, estende-se a familiares, amigos, colegas e mesmo à
própria equipe de saúde, responsável pelo tratamento.
Sofrimento
emocional muitas vezes leva a pior evolução da doença, porque pode prejudicar a
adesão aos tratamentos. Por outro lado, situações prolongadas de estresse
freqüentemente resultam em funcionamento inadequado do sistema imunológico, o
aparato natural de defesa de nosso organismo. Nesse caso, este passa a
ser menos eficaz em sua ação de reconhecimento e eliminação de elementos
estranhos ao organismo, por exemplo, células malignas em formação.
Uma
das formas de maior adesão a programas de prevenção, diagnóstico e tratamentos,
quando indicados, é a informação. Quanto mais dados as pessoas tiverem a
respeito do câncer, maior a quantidade de medidas de proteção que poderão
tomar, atentas à possibilidade de diagnóstico e à adoção de uma atitude mais
ativa e participativa em seus tratamentos.
Dos
cânceres infantis, a leucemia é o tipo mais freqüente, dentre essas a Leucemia
Linfóide Aguda (LLA) é de maior ocorrência em crianças na maioria das
populacões. Entre os Linfomas, o mais incidente na infância é o Linfoma
não Hodgkin. Os tumores de sistema nervoso, que predominam no sexo masculino,
ocorrem principalmente em crianças menores de 15 anos, com um pico na idade de
10 anos, e representam cerca de 20% dos tumores infantis. Estimativas do
Instituto Nacional do Câncer – INCA – previam, para o Brasil, cerca de 9540
casos novos de leucemias no ano de 2008.
Lamentavelmente,
em nosso país, apesar dos esforços feitos no sentido de se obter diagnóstico
precoce, muitas pessoas ainda chegam aos serviços médicos com doença em estado
avançado, o que compromete prognósticos melhores.
No
entanto, se é verdade que constatamos atualmente a presença significativa do
câncer e o aumento na incidência de algumas de suas formas, lembramos também
que muito se tem feito em relação ao maior conhecimento da doença, o que
desvenda novas formas de prevenir, diagnosticar e tratar.
No
século XX, após a II Guerra Mundial, começaram a ser desenvolvidos medicamentos
para o tratamento do câncer. Curiosamente, o primeiro medicamento eficaz foi o
Gás Mostarda, usado como arma química naquele conflito. Em 1950, relata-se o
primeiro caso de cura de câncer através do uso de um medicamento.
Inicia-se assim a era da quimioterapia.
Muitos
avanços têm sido obtidos: observa-se aumento do tempo de sobrevida de pacientes
com câncer e essa perspectiva, dados os novos meios de controle da doença,
coloca diferentes questões e demandas específicas.
Não
podemos deixar de mencionar que um dos fatores que tem contribuído para a
mudança no cenário do câncer é o aumento da eficácia dos recursos diagnósticos.
Técnicas sofisticadas e o estabelecimento de rastreamento populacional no caso
de alguns tipos de têm aumentado a possibilidade de diagnóstico e, sobretudo,
de diagnóstico precoce.
Aspectos Psicológicos
Para
os pacientes oncológicos e seus familiares, o longo percurso se inicia na
necessidade de prevenção, passa por diagnóstico, tratamentos, reabilitação, e
os conduz até a terminalidade, podendo levá-los à morte ou cura, reinserção
social e luto. Muitos aspectos psicológicos são mobilizados ao longo do trajeto
fazendo com que, freqüentemente, se torne necessária intervenção psicossocial
adequada.
Evidenciou-se
também que a adesão aos tratamentos está associada a fatores psicológicos e
sociais. Daí surgiu a necessidade de desenvolvimento de nova tecnologia na área
da saúde, bem como reforço a estratégias de enfrentamento do paciente e
familiares, que assegurem a participação ativa do doente no processo de
tratamento.
A
partir das observações e do conhecimento adquirido, simultaneamente, em
diversas partes do mundo, centros de oncologia passaram valorizar sua
importância na incidência da doença e evolução dos tratamentos, propondo-se a
estudá-los e a compreendê-los.
Propõem-se respostas
É
à Psico-Oncologia, área de intersecção entre a Psicologia e a Oncologia, que
cabem o estudo das variáveis psicológicas e comportamentais envolvidas no
processo de adoecimento e cura e as intervenções ao longo de todo ele.
A
formalização da Psico-Oncologia nasceu nos Estados Unidos, em um grande centro
médico especializado em câncer, o Memorial Sloan Kettering Hospital, de New
York. Originou-se da constatação de que fatores psicológicos e
comportamentais estavam envolvidos na etiologia do câncer e no seu
desenvolvimento. Não queremos aqui afirmar que aspectos psicológicos como depressão,
por exemplo, são diretamente os causadores da doença, dada a multifatoriedade
hoje identificada na etiologia do câncer. Mas determinados
comportamentos, resultantes de algumas condições psicológicas, como o tabagismo
ou consumo excessivo de álcool, podem ser elementos que contribuem para o
surgimento de um câncer.
Psico-Oncologia hoje, no Brasil e no
Mundo.
O
século XXI encontrou a Psico-Oncologia formatada e estruturada em diversos
países do mundo. A IPOS – International Psycho Oncology Society, cuja
Diretoria Internacional atual está sediada na Dinamarca, congrega profissionais
de saúde de vários centros, que se ocupam de clínica, pesquisa e ensino na
área. A produção científica internacional é consistente e se traduz na
publicação de diversos livros, além do desenvolvimento de inúmeros trabalhos de
pesquisa clínica e de resultados.
O
Brasil, desde 1994, tem sua SBPO – Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia, um
desdobramento do primeiro grupo de profissionais que, em 1983, começou a se
interessar por estudar o assunto.
A
Portaria 3.535/98 do Ministério da Saúde determinou a presença obrigatória de
profissionais especialistas em Psicologia Clínica nos centros de atendimento de
oncologia cadastrados no SUS. Em conseqüência, diversos setores de
Oncologia de Centros Médicos, Clínicas e Hospitais de todo o Brasil – públicos
ou privados – passaram a incluir profissionais devidamente instrumentalizados
para atendimento às questões que permeiam a realidade do câncer.
A
postura multiprofissional defendida pela SBPO fez com que, a partir de 1997,
venham-se formando turmas de médicos, psicólogos, fisioterapeutas, enfermeiros,
terapeutas ocupacionais, nutricionistas e outros profissionais de saúde em
busca da capacitação específica, que é fornecida em cursos de formação e
especialização, aperfeiçoamento e aprimoramento, extensão e introdução em
Psico-Oncologia.
Hoje
são 118 profissionais com Certificação de Distinção de Conhecimento na área da
Psico-Oncologia, prontos para atuar frente às necessidades individuais ou
institucionais ligadas ao câncer, respaldados pela SBPO.
Psico-Oncologia
é área de saber jovem, embora os problemas de que trata sejam universais e
antigos: a desinformação e o medo que dela decorrem; o sofrimento físico e
psíquico de pacientes, familiares e cuidadores.
Nenhum
desses aspectos é exclusivo do câncer, mas é na realidade oncológica que eles
se manifestam com extrema intensidade.
Para saber
mais:
1. Handbook of Psycho-Oncology, Holland, J.C., NY, 19902. Introdução à Psiconcologia: Carvalho, M.J. (coord), Editorial Psy, Campinas, 19943. Psico-Oncologia no Brasil: Resgatando o Viver, Carvalho, M.J. (coord) ed Summus, São Paulo, 19984. Temas em Psico-oncologia: Carvalho et all (org.), Summus Editorial, São Paulo, 2008
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