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terça-feira, 19 de junho de 2012

Um novo olhar para o câncer.


Psico-Oncologia


História do câncer e novas indagações

Câncer é denominação genérica para modificações em estruturas celulares que resultam, de modo geral, em formações tumorais.  A especificidade dessas formações é sua capacidade de migrarem, por via sangüínea ou linfática, para outros órgãos do corpo e aí se estabelecerem, gerando novos grupamentos celulares. Trata-se das metástases que, na maior parte dos casos, são as verdadeiras causas da morte do paciente. Não existe câncer benigno, porém existem diferentes graus de malignidade e agressividade dos tumores.  O órgão primário ou inicial em que se verifica a transformação, o tamanho e natureza do tumor e o grau de invasão deste para outros órgãos constituem-se em critérios sobre a gravidade e prognóstico da cada caso.  É a partir desses critérios que se definem condutas e tratamentos que, a cada dia, nos mostram que câncer e morte não são sinônimos.

Mas houve um tempo em que o câncer era inevitavelmente fatal. Essa realidade fez com que se desenvolvessem, no imaginário das pessoas, medos intensos em relação a essa doença. Até há pouco tempo, não era difícil encontrar pessoas que sequer pronunciassem a palavra câncer, o que pode ocorrer ainda hoje àqueles que não têm acesso adequado à informação.

É comum estarem presentes: o medo da morte, imaginada como inevitável; o medo do sofrimento dos tratamentos; o medo do desfiguramento, quando a doença evolui; o medo da dor, muitas vezes pensada como sem possibilidade de controle.
O medo em relação ao câncer tem conseqüências importantes. Entre elas, o afastamento da possibilidade de diagnóstico precoce. Hoje sabemos que diagnóstico precoce e adequada intervenção imediata são elementos decisivos, que chegam a definir o prognóstico da doença. Em muitos casos, representam o diferencial para a cura.

O medo também pode ser responsável pela existência de grande sofrimento psíquico. Vale lembrar que o sofrimento, geralmente, não se restringe ao paciente apenas, mas, em muitos casos, estende-se a familiares, amigos, colegas e mesmo à própria equipe de saúde, responsável pelo tratamento.

Sofrimento emocional muitas vezes leva a pior evolução da doença, porque pode prejudicar a adesão aos tratamentos.  Por outro lado, situações prolongadas de estresse freqüentemente resultam em funcionamento inadequado do sistema imunológico, o aparato natural de defesa de nosso organismo.  Nesse caso, este passa a ser menos eficaz em sua ação de reconhecimento e eliminação de elementos estranhos ao organismo, por exemplo, células malignas em formação.

Uma das formas de maior adesão a programas de prevenção, diagnóstico e tratamentos, quando indicados, é a informação. Quanto mais dados as pessoas tiverem a respeito do câncer, maior a quantidade de medidas de proteção que poderão tomar, atentas à possibilidade de diagnóstico e à adoção de uma atitude mais ativa e participativa em seus tratamentos.

Dos cânceres infantis, a leucemia é o tipo mais freqüente, dentre essas a Leucemia Linfóide Aguda (LLA) é de maior ocorrência em crianças na maioria das populacões.  Entre os Linfomas, o mais incidente na infância é o Linfoma não Hodgkin. Os tumores de sistema nervoso, que predominam no sexo masculino, ocorrem principalmente em crianças menores de 15 anos, com um pico na idade de 10 anos, e representam cerca de 20% dos tumores infantis.  Estimativas do Instituto Nacional do Câncer – INCA – previam, para o Brasil, cerca de 9540 casos novos de leucemias no ano de 2008.

Lamentavelmente, em nosso país, apesar dos esforços feitos no sentido de se obter diagnóstico precoce, muitas pessoas ainda chegam aos serviços médicos com doença em estado avançado, o que compromete prognósticos melhores.

No entanto, se é verdade que constatamos atualmente a presença significativa do câncer e o aumento na incidência de algumas de suas formas, lembramos também que muito se tem feito em relação ao maior conhecimento da doença, o que desvenda novas formas de prevenir, diagnosticar e tratar.

No século XX, após a II Guerra Mundial, começaram a ser desenvolvidos medicamentos para o tratamento do câncer. Curiosamente, o primeiro medicamento eficaz foi o Gás Mostarda, usado como arma química naquele conflito. Em 1950, relata-se o primeiro caso de cura de câncer através do uso de um medicamento.  Inicia-se assim a era da quimioterapia.

Muitos avanços têm sido obtidos: observa-se aumento do tempo de sobrevida de pacientes com câncer e essa perspectiva, dados os novos meios de controle da doença, coloca diferentes questões e demandas específicas.

Não podemos deixar de mencionar que um dos fatores que tem contribuído para a mudança no cenário do câncer é o aumento da eficácia dos recursos diagnósticos. Técnicas sofisticadas e o estabelecimento de rastreamento populacional no caso de alguns tipos de têm aumentado a possibilidade de diagnóstico e, sobretudo, de diagnóstico precoce.

Aspectos Psicológicos

Para os pacientes oncológicos e seus familiares, o longo percurso se inicia na necessidade de prevenção, passa por diagnóstico, tratamentos, reabilitação, e os conduz até a terminalidade, podendo levá-los à morte ou cura, reinserção social e luto. Muitos aspectos psicológicos são mobilizados ao longo do trajeto fazendo com que, freqüentemente, se torne necessária intervenção psicossocial adequada.

Evidenciou-se também que a adesão aos tratamentos está associada a fatores psicológicos e sociais. Daí surgiu a necessidade de desenvolvimento de nova tecnologia na área da saúde, bem como reforço a estratégias de enfrentamento do paciente e familiares, que assegurem a participação ativa do doente no processo de tratamento.

A partir das observações e do conhecimento adquirido, simultaneamente, em diversas partes do mundo, centros de oncologia passaram valorizar sua importância na incidência da doença e evolução dos tratamentos, propondo-se a estudá-los e a compreendê-los.

Propõem-se respostas

É à Psico-Oncologia, área de intersecção entre a Psicologia e a Oncologia, que cabem o estudo das variáveis psicológicas e comportamentais envolvidas no processo de adoecimento e cura e as intervenções ao longo de todo ele.

A formalização da Psico-Oncologia nasceu nos Estados Unidos, em um grande centro médico especializado em câncer, o Memorial Sloan Kettering Hospital, de New York.  Originou-se da constatação de que fatores psicológicos e comportamentais estavam envolvidos na etiologia do câncer e no seu desenvolvimento. Não queremos aqui afirmar que aspectos psicológicos como depressão, por exemplo, são diretamente os causadores da doença, dada a multifatoriedade hoje identificada na etiologia do câncer.  Mas determinados comportamentos, resultantes de algumas condições psicológicas, como o tabagismo ou consumo excessivo de álcool, podem ser elementos que contribuem para o surgimento de um câncer. 


Psico-Oncologia hoje, no Brasil e no Mundo.

O século XXI encontrou a Psico-Oncologia formatada e estruturada em diversos países do mundo.  A IPOS – International Psycho Oncology Society, cuja Diretoria Internacional atual está sediada na Dinamarca, congrega profissionais de saúde de vários centros, que se ocupam de clínica, pesquisa e ensino na área.  A produção científica internacional é consistente e se traduz na publicação de diversos livros, além do desenvolvimento de inúmeros trabalhos de pesquisa clínica e de resultados.

O Brasil, desde 1994, tem sua SBPO – Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia, um desdobramento do primeiro grupo de profissionais que, em 1983, começou a se interessar por estudar o assunto.

A Portaria 3.535/98 do Ministério da Saúde determinou a presença obrigatória de profissionais especialistas em Psicologia Clínica nos centros de atendimento de oncologia cadastrados no SUS.  Em conseqüência, diversos setores de Oncologia de Centros Médicos, Clínicas e Hospitais de todo o Brasil – públicos ou privados – passaram a incluir profissionais devidamente instrumentalizados para atendimento às questões que permeiam a realidade do câncer.

A postura multiprofissional defendida pela SBPO fez com que, a partir de 1997, venham-se formando turmas de médicos, psicólogos, fisioterapeutas, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, nutricionistas e outros profissionais de saúde em busca da capacitação específica, que é fornecida em cursos de formação e especialização, aperfeiçoamento e aprimoramento, extensão e introdução em Psico-Oncologia.

Hoje são 118 profissionais com Certificação de Distinção de Conhecimento na área da Psico-Oncologia, prontos para atuar frente às necessidades individuais ou institucionais ligadas ao câncer, respaldados pela SBPO.

Psico-Oncologia é área de saber jovem, embora os problemas de que trata sejam universais e antigos: a desinformação e o medo que dela decorrem; o sofrimento físico e psíquico de pacientes, familiares e cuidadores.

Nenhum desses aspectos é exclusivo do câncer, mas é na realidade oncológica que eles se manifestam com extrema intensidade.

Para saber mais:

1.   Handbook of Psycho-Oncology, Holland, J.C., NY, 1990
2.   Introdução à Psiconcologia: Carvalho, M.J. (coord), Editorial Psy, Campinas, 1994
3.   Psico-Oncologia no Brasil: Resgatando o Viver, Carvalho, M.J. (coord) ed Summus, São Paulo, 1998
4.   Temas em Psico-oncologia: Carvalho et all (org.), Summus Editorial, São Paulo, 2008

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