OSTEONECROSE DOS
MAXILARES ASSOCIADA AO USO DE BISFOSFONATOS
Prof. Dr. Carlos
Eduardo X. S. Ribeiro da Silva
Ac. Camila Marília de
Moraes Ferraz
Ac. Jean Guaracy de
Almeida Bastos
1 INTRODUÇÃO
O conhecimento dos efeitos
adversos de medicamentos tem fundamental importância na escolha das drogas a
serem empregadas. Entretanto, nem sempre se tem o conhecimento total dos
possíveis efeitos indesejáveis dos fármacos indicados para determinadas doenças.
Assim, a associação causal entre um fármaco e seu efeito adverso pode vir a ser
observada diversos anos após a liberação de seu uso.
É imprescindível que o
profissional realize uma minuciosa anamnese para o conhecimento da condição de
saúde geral do paciente e também de eventuais terapias medicamentosas em uso
por motivos médicos. É comum nos pacientes que procuram atendimento
odontológico o uso de fármacos, situação que requer especial atenção e
conhecimento por parte do cirurgião-dentista. Alguns desses fármacos podem
interferir e alterar diretamente o diagnóstico, o plano de tratamento ou mesmo
o prognóstico do tratamento.
Os bisfosfonatos (BFS) são uma
classe de medicamentos muito utilizados no tratamento da osteoporose23, doença
de Paget20 do osso e também associados à quimioterapia para o tratamento de
hipercalcemia secundária e alguns tumores malignos12,19. A eficácia clinica dos
bisfosfonatos no tratamento de osteopenia e osteoporose é reconhecida e isto é
refletido no número de 190 milhões de prescrições médicas realizadas em todo
mundo4.
Atualmente, existe uma extensa
discussão na literatura científica sobre possível relação entre o uso de
bisfosfonatos e o surgimento de casos de osteonecrose avascular após
intervenções cirúrgicas como exodontias ou cirurgias envolvendo tecido ósseo em
maxila e mandíbula e até mesmo em pacientes sem história de submissão a tais
procedimentos23,3,17. Baseado em informações do fabricante do alendronato, por
exemplo, a incidência de osteonecrose associada ao uso de bisfosfonatos é de 1
em 143.000 pessoas / ano submetidas a tratamento odontológico19.
O tecido ósseo adulto é
caracterizado pela presença de fosfato e cálcio, na forma de cristais de
hidroxiapatita [Ca10 (PO4)6(OH)2], que incorpora em sua estrutura outros íons e
sais, sendo o principal componente mineral constituinte do osso e o elemento
essencial responsável pela função de apoio mecânico9.
Devido à dinâmica do tecido
ósseo, este é continuamente reabsorvido pela atividade osteoclástica e
substituído pela atividade osteoblástica, ambas reguladas por fatores
sistêmicos e locais9.
Os bisfosfonatos são agentes
inibidores da ação osteoclástica, com capacidade de alterar o processo de
reabsorção óssea. Sua utilização inclui principalmente a inibição da reabsorção
óssea associada à osteoporose e a hipercalcemia associada à disseminação óssea
de neoplasias malignas (especialmente mieloma múltiplo e cânceres metastáticos
para o osso). Embora existam diversos grupos de bisfosfonatos, a utilização de
cada droga depende de suas características químicas, potencial de efetividade e
forma de apresentação. Das drogas desse grupo, o alendronato (Fosamax®) é a
mais conhecida e tem sido administrada por via oral no controle da osteoporose.
O pamidronato (Aredia®) e o ácido zoledrônico (Zometa®), ambos de utilização
intravenosa, são as formas mais usadas no controle de pacientes com câncer
metastático para os ossos.
Este trabalho tem como objetivo
alertar o cirurgião dentista quanto ao risco do desenvolvimento de osteonecrose
avascular após procedimentos cirúrgicos em maxila e mandíbula de pacientes que
estão sob tratamento com bisfosfonatos.
2 REVISÃO DA LITERATURA
Complicações orais resultantes de
tratamentos medicamentosos vem sendo um assunto de grande desafio para clínicos
e pesquisadores nas ultimas décadas. Devido aos avanços na medicina e o
crescente número de fármacos utilizados, o potencial de possíveis efeitos
adversos com complicações orais tem se multiplicado5.
As alterações bucais podem variar
de alterações na mucosa como candidiase, eritema multiforme, pênfigo associado
a uso de medicamento, reações liquenoides, hiperplasia gengival causada pelo
uso das hidantoínas a neuropatias induzidas por drogas e distúrbios gustativos.
O cirurgião dentista tem um grande número de complicações orais a serem
diagnosticadas e tratadas15, assim, é fundamental que as informações a respeito
de possíveis efeitos adversos das drogas sejam divulgadas para o conhecimento
dos profissionais.
A partir de 2003, vários relatos
de casos começaram a ser publicados na literatura a respeito de uma séria
complicação possivelmente induzida por medicamento: osteonecrose de maxila e
mandíbula relacionada ao uso de bisfosfonatos (OAB) como pamidronato e
zoledronato15.
Os bisfosfonatos têm indicações
de uso em tratamentos de pacientes com osteoporose, osteopenia, hipercalcemia
maligna, doença de Paget do osso, pacientes oncológicos apresentando metástase
óssea20, tratamento do câncer de mama e próstata com metástase óssea, mieloma
múltiplo, crianças com osteogênese imperfeita e osteoporose juvenil ideopática
ou induzida por esteróides15. Recentemente, tem-se sugerido também seu uso na
redução da perda óssea associada à doença periodontal25.
Os bisfosfonatos são estruturalmente
análogos ao pirosfosfato, um produto normal do metabolismo humano que, quando
sofre algumas modificações estruturais, dá origem a diferentes gerações de
bisfosfonatos com distintos níveis de atividade25.
A primeira geração inclui o
etidronato, a segunda compreende os aminobisfosfonatos, como o alendronato e o
pamidronato, e a terceira geração possui uma cadeia cíclica, sendo seus
representantes o risedronato e o zoledronato25. As propriedades anti
reabsortivas dos bisfosfonatos aumentam, aproximadamente, dez vezes entre as
gerações da droga25.
Cerca de 50% da dose administrada
acumula-se em locais de mineralização óssea, permanecendo nestes sítios por
meses ou anos, até ocorrer a reabsorção. O fármaco, quando administrado por via
oral, sofre pouca absorção, sendo esta ainda afetada pela alimentação,
particularmente pelo leite. Uma vez livre no plasma, é excretado, em sua forma
inalterada, pelo rim22.
Os bisfosfonatos estão altamente
concentrados nos maxilares, pois possuem uma maior vascularização e maior
atividade celular que outros ossos, devido a sua atividade diária e presença de
dentes, necessitando de remodelações constantes ao redor do ligamento
periodontal16.
O etidronato, residronato e
tiludronado são comumente indicados nos tratamentos dessas patologias e parecem
não causar osteonecrose. Essas drogas são bisfosfonatos não-nitrogenados e são
rapidamente metabolizados14. O pamidronato e zoledronato que são bisfosfonatos
nitrogenados são mais potentes e não são metabolizados tão rápido13,14.
A tabela 1, traz um quadro com os
nomes comerciais e as características dos bisfosfonatos (BFS) disponíveis no
mercado brasileiro.
Os sinais e sintomas da
osteonecrose associada ao uso de bisfosfonatos são: ulcerações irregulares da
mucosa com exposição óssea na mandíbula ou maxila, dor ou inchaço na região
afetada, infecção com presença de exudação purulenta e sensações alteradas
(embaçamento de visão ou sensação de mal-estar).
Os bisfosfonatos podem apresentar
reações adversas, a maior parte focada no sistema digestivo, tais como náuseas,
vômitos, diarréia, esofagite com possível evolução para o aparecimento de
úlceras esofágicas, alem de dores ósseas, musculares, articulares e reações
alérgicas8.
A maior série dos casos
encontrada na literatura que relata 63 casos de osteonecrose dos maxilares
associada ao uso de bisfosfonatos. O diagnóstico mais freqüente foi de mieloma
múltiplo (28 pacientes), seguido de câncer da mama (21 pacientes), câncer da
próstata (03 pacientes) e outras doenças malignas (05 pacientes). Sete
pacientes também faziam uso de bisfosfonatos para tratamento de osteoporose,
sem terem tido diagnóstico de doenças malignas ou terem passado por
quimioterapia. A maxila foi envolvida em 38% dos pacientes, sendo 19 casos com
envolvimento unilateral e cinco com bilateral.
Tabela 1
Nit= Bisfosfonato Nitrogenado IV= Intravenosa * Potencia
relativa ao Etidronat
Fonte: R. Periodontia – 17 (3):24-30
Já a mandíbula foi envolvida em
63% dos pacientes, com 37 casos unilaterais e três bilaterais. Um paciente teve
todos os quadrantes acometidos por lesões ósseas necróticas. O quadro clínico
mais freqüente foi de dor do tecido ósseo exposto em local onde houve uma
extração dentária prévia. Entretanto, 14% dos pacientes não tinham histórias de
qualquer procedimento dento-alveolar recente. Ao exame radiográfico, os autores
observaram osso com aspecto mosqueado, formações de seqüestros, sinusite
crônica e fístulas buco-sinusais. Em seis pacientes, foram verificadas imagens
de áreas osteolíticas antes da extração, sugerindo envolvimento prévio do osso
alveolar. Ao exame microscópico, foi observado osso necrótico com restos
bacterianos e tecido de granulação. Os autores realizaram cultura de material
em que foram identificados microorganismos integrantes da microbiota oral
normal. O tratamento variou de debridamento sob anestesia local até
procedimentos cirúrgicos para a remoção de toda a peça óssea envolvida.A
interrupção do uso do bisfosfonato não teve um grande impacto na progressão do
processo. Em cinco pacientes, a necrose óssea não apenas persistiu, como também
se desenvolveu em outros sítios.
A tabela 2, mostra alguns casos
relatados na literatura como respectivos diagnósticos que levaram os pacientes
a receber bisfosfonatos, as localizações dos casos de OAB, os tipos de
bisfosfonatos utilizados e as formas de tratamento, quando conhecidas.
As causas da OAB ainda são
obscuras, mas parecem advir de uma complexa interação entre o metabolismo
ósseo, trauma local, infecção, hipovascularização e o uso dos bisfosfonatos. Os
pacientes que fazem uso dos bisfosfonatos administrados por via parenteral parecem
ser mais susceptíveis à OAB do que os tratados por via oral. Fatores sistêmicos
como diabete mellitus, imunosupressão, uso de outras medicações concomitantes,
como agentes quimioterápicos e corticoesteróides também parecem ter relação com
a manifestação da OAB19.
Os fatores de risco para
desenvolvimento da OAB podem ser modulados pela natureza da droga, fatores
locais e sistêmicos. A potencia do bisfosfonato e a duração do tratamento são
diretamente proporcionais ao aparecimento da OAB. Pacientes que fazem uso de
BFS e são submetidos a cirurgia dento-alveolar apresentam risco sete vezes
maior de adquirir OAB. A mandíbula costuma ser mais afetada do que a maxila.
Infecções periodontais, periapicais e pericoronais predispõem à OAB. Pacientes
fumantes, etilistas e com higiene oral deficiente também têm risco aumentado de
desenvolver OAB2.
Pacientes são considerados
portadores de OAB quando apresentam três características fundamentais: terem
sido submetidos a tratamento atual ou prévio com BFs; apresentarem osteonecrose
na região maxilofacial por mais de oito semanas; não terem sido submetidos a
radioterapia nos maxilares2.
Nas fases iniciais da OAB, não se
detectam manifestações radiográficas e normalmente os pacientes não apresentam
sintomas. Quando a exposição óssea torna-se mais extensa, o sinal clínico mais
comum é a presença de rugosidades em tecido mole que rodeiam área do osso
necrosado, podendo haver indicios de infecção secundária. Em estágios mais
avançados, os indivíduos podem queixar-se de dor intensa, com áreas de
parestesia19.
Os pacientes que fazem uso de
bisfosfonatos orais a menos de três anos e não apresentam fatores de risco, não
necessitam de qualquer alteração ou demora no planejamento de um procedimento
cirúrgico oral. No entanto é sugerida a confecção de um termo de consentimento
informado que esclareça o possível risco de manifestação da OAB2.
Tabela 2
Fonte : MIGLIORATI, et al, 2006
Os pacientes que fazem uso de BFS
orais a mais de três anos ou associam seu uso com corticoesteróides, necessitam
interromper a administração dos BFs pelo menos três meses antes do procedimento
cirúrgico, só devendo retornar o uso após completa cicatrização dos tecidos
ósseos envolvidos. A confecção de um termo de consentimento que esclareça os
possíveis riscos também é prudente2.
Ainda não existem formas
totalmente eficientes de controle da OAB , porém, a AAOMS sugeriu estratégias
de tratamento para esta doença de prognóstico ainda duvidoso.
O uso de anti-sépticos bucais,
como a clorexidina a 0,12% antibioticoterapia sistêmica, além de procedimentos
cirúrgicos como curetagem e ressecção ósseas, têm sido realizados como
estratégias de tratamento da OAB2.
As lesões de OAB também tem sido
tratadas de outras formas, incluindo terapia de oxigenação hiperbárica. No
entanto, a literatura tem apresentado resultados controversos pouco
consistentes 17,6. O uso do ozônio também tem sido relatado na literatura com
resultados animadores1.
Vale ressaltar, que por se tratar
de um tratamento médico, é o médico quem deve tomar decisões quanto à conduta
terapêutica relacionada ao uso do bisfosfonato, incluindo a descontinuação do
uso deste medicamento. Entretanto, é importante que haja interação
multidisciplinar entre as áreas médicas e odontológicas envolvidas20.
Além disso, há uma forte
recomendação de especialistas para os pacientes: aqueles que forem se submeter
a tratamentos com bisfosfonatos passem antes por uma avaliação odontológica,
com o intuito de propiciar ao cirurgião dentista a oportunidade de diagnosticar
e tratar qualquer doença na cavidade bucal, realizar procedimentos cirúrgicos
necessários anteriormente ao início da terapia medicamentosa, e para que
oriente o paciente para a realização de uma efetiva higienização bucal18.
3 RELATO DE CASOS CLÍNICOS
3.1 Caso 1
Paciente MAP, gênero feminino, 58
anos de idade, com história médica de adenocarcinoma de mama esquerda em 2001,
diagnosticado com 5 cm de diâmetro. Foi realizada mastectomia esquerda radical,
remoção da cadeia linfática axilar e radioterapia coadjuvante. Dois anos depois
a paciente apresentou outro nódulo de aproximadamente 3 cm de diâmetro na mama
direita, cujo diagnóstico, após punção aspirativa, foi outro adenocarcinoma
(segundo primário). Foi realizada também mastectomia radical com remoção da
cadeia linfática axilar e radioterapia.
Três anos após o primeiro tumor,
a paciente referiu dores na coluna cujas imagens da ressonância magnética
demonstraram a presença de lesões compatíveis com metástases ósseas. Realizada
biópsia, confirmou-se a suspeita clínica e iniciou-se o tratamento com Zometa®.
Durante o tratamento todas as
vezes que as lesões ósseas demonstraram estar controlada e o oncologista
suspendeu o uso do Zometa®, as mesmas voltaram mais agressivas. Em dezembro de
2007, a paciente apresentou uma lesão óssea necrótica, na região de molar
superior esquerdo, com solução de continuidade na cavidade oral e o seio
maxilar, com a presença de sinusopatia. A lesão em questão era clinicamente
compatível com osteonecrose por bisfosfonato. O exame tomográfico confirmou a
necrose óssea e a comunicação oro-antral. A paciente foi submetida à ressecção
do osso necrótico da maxila, irrigação com clorexidina aquosa e soro
fisiológico além da fixação de tela absorvível de reconstrução para fechamento da
fístula oro-antral, sob anestesia geral. Foi realizado retalho palatino, com a
preservação da artéria palatina, a fim de se manter a irrigação. O
pós-operatório foi sem intercorrências, havendo fechamento completo da mucosa
em 15 dias.
Osteonecrose
Figura 1a e 1b - Tomografia computadorizada: comunicação
oro-antral em maxila esquerda.
Imagens cedidas pelo Prof. Dr. Carlos Eduardo X. S. R. da
Silva
Osteonecrose
3.2 Caso 2
Em maio de 2008, a paciente
apresentou nova área de necrose na maxila, região de canino que também foi
operada. Realizada a remoção do elemento dental com ressecção em bloco do osso
alveolar, debridamento, brocagem, irrigação e preenchimento do defeito cirúrgico
com enxerto alógeno Ostin. A paciente encontra-se atualmente (Agosto de 2009)
sob acompanhamento sem a evidência de novas lesões.
Osteonecrose
Figura 2a – Ressecção
do osso necrótico da maxila / Figura 2b - Retalho palatino
Imagens cedidas pelo
Prof. Dr. Carlos Eduardo X. S. R. da Silva
3.3 Caso 3
Paciente JMF, gênero feminino, 51 anos de idade. Historia
médica de Adenocarcinoma de mama esquerda. Uso de Zometa® há 3 anos com
diversos períodos de interrupção da medicação. Apresentou lesão com necrose óssea
na região anterior de mandíbula, com envolvimento dos dentes incisivo lateral
inferior esquerdo, central inferior esquerdo, 1º pré-molar inferior esquerdo.
Realizadas exodontias e debridamento do osso necrótico, irrigação com
clorexidina aquosa e soro fisiológico 0,9%, com fechamento primário através de
retalho. Atualmente, encontra-se sob controle.
Osteonecrose
Figura 3a -
Necrose óssea na região anterior de mandíbula | Figura 3b - Exodontias e
debridamento do osso necrótico
Imagens cedidas
pelo Prof. Dr. Carlos Eduardo X. S. R. da Silva
Osteonecrose
Figura 3c -
Debridamento com ampliação cirúrgica | Figura 3d - Sutura
Imagens cedidas
pelo Prof. Dr. Carlos Eduardo X. S. R. da Silva
Osteonecrose
Figura 3e - Pós
operatório: Cicatrização após 20 dias
Imagem cedida pelo
Prof. Dr. Carlos Eduardo X. S. R. da Silva
3.4 Caso 4
Paciente MD, gênero feminino, 62 anos de idade, história
médica de câncer de mama. Faz uso do Zometa® há 2 anos. Pequena lesão de
mandíbula tratada através de ostectomia sob anestesia local, irrigação com soro
fisiológico 0,9% e fechamento primário. Atualmente, encontra-se sob
acompanhamento.
Osteonecrose
Figura 4a – Exame
Radiografico : lesão de mandíbula | Figura 4b – Exame Radiográfico - vista
aproximada
Imagens cedidas pelo
Prof. Dr. Carlos Eduardo X. S. R. da Silva
Figura 4c – Lesão de
mandíbula | Figura 4d – Debridamento Cirúrgico
Imagens cedidas pelo
Prof. Dr. Carlos Eduardo X. S. R. da Silva
3.5 Caso 5
Paciente MS, gênero feminino, 68
anos de idade. Câncer de mama. Mastectomia radical de mama esquerda em 2005.
Uso de Zometa® desde esta época até janeiro de 2008. Lesão necrótica na
mandíbula direita com exposição de tecido ósseo e dor espontânea. Queixa de
gosto desagradável.
Tratada através de curetagem,
irrigação e retalho muco-periostal. Ocorreu fechamento da lesão em
aproximadamente 20 dias. A paciente foi a óbito em abril de 2008 por metástases
generalizadas.
4 DISCUSSÃO
Na maioria dos pacientes as
lesões iniciais ocorreram após extração dentária e as áreas envolvidas sempre
apresentaram infecção secundária. Após o diagnóstico de osteonecrose através de
biópsia, alguns pacientes foram tratados com sob o mesmo protocolo:
debridamento do tecido e remoção do seqüestro ósseo, obtendo margens sangrantes
para torná-las mais acessíveis aos antibióticos, preservando o osso não
necrótico, e irrigação local com iodopovidine ou clorhexidina 12% e soro
fisiológico 0,9%12,16. O seqüestro ósseo deve ser eliminado com curetagem e
auxilio de broca regularizando-se o osso, promovendo o fechamento com cobertura
de tecidos sadios, quando possível. O tratamento e controle da dor e infecção
devem ser feitos com analgésicos, antiinflamatórios e antibióticos e a higiene oral
deve ser rigorosa, com uso de bochechos de clorhexidina 0,12%21,24,10.
Alguns autores acreditam que é
necessário discutir com o oncologista do paciente, que apresenta osteonecrose,
a possibilidade de se suspender o uso dos bisfosfonatos21,11. Outros não veem
razão para tal descontinuidade17.
O debridamento e fechamento do
osso exposto com retalho não foi efetivo, por desenvolver fístulas, causar
deiscência e maior exposição óssea16. A terapia com oxigênio hiperbárico não
trouxe nenhum benefício para o tratamento dos pacientes com osteonecrose por
bisfosfonatos 21,17.
Os pacientes que fazem uso de
bisfosfonatos não devem ser candidatos a instalação de implantes 24,16.
Em crianças a atividade celular
óssea é muito mais intensa e o osso em crescimento é mais vascularizado, por
isso não foi observada osteonecrose em crianças tratadas com bisfosfonatos para
osteoporose e osteogênese imperfeita7.
5 PREVENÇÃO
É de fundamental importância que
o oncologista, o cirurgião bucomaxilofacial e o cirurgião dentista que irão
tratar os pacientes que fazem uso dos bisfosfonatos, entendam a osteonecrose
dos maxilares10.
A prevenção, segundo todos os
autores citados, é o principal fator para se evitar a osteonecrose. Antes de
iniciar a terapia, com bisfosfonatos, o paciente deve ser submetido a um
rigoroso exame clínico odontológico, onde no mínimo será solicitado exame
radiográfico panorâmico. O tratamento deve consistir em eliminação de
infecções, prevenir a necessidade de procedimentos invasivos a curto a médio
prazo e, devem incluir extrações dentárias, controle da doença periodontal,
terapia endodôntica, controle de cáries, restaurações e reabilitação com
prótese. Dentes retidos, impactados, totalmente inclusos, cobertos por osso e
tecido mucoso sadio, devem ser mantidos. Dentes interrompidos, com comunicação
oral devem ser removidos, aguardando sua total cicatrização por um período de 1
mês. Pequenos torus recorbertos por mucosa devem ser mantidos e aqueles
multilobulares, grandes e recobertos com mucosa muito fina devem ser removidos
1 mês antes do início da terapia com bisfosfonatos. Próteses parciais ou totais
são aceitas, porém deve-se aliviar as áreas com pressão excessiva no rebordo ou
realizar reembasamento com resinas soft 16,24,17.
Caso a terapia com bisfosfonato
já tenha sido iniciada, um controle periódico, a cada 4 meses é recomendado: o
dentista deve avaliar na cavidade oral áreas de exposição óssea, principalmente
na região posterior e lingual da mandíbula, procurar evidências radiográficas
de reabsorções ósseas ou osteomielite, aumento de espaços pericementários e
envolvimentos de furcas, sendo necessário realizar profilaxia e remoção de
tártaro, restaurações e tratamentos endodônticos. Dentes com mobilidade grau 1
e 2 devem ser esplintados e grau 3 associados a abcessos devem ser removidos
com antibioticoterapia. O paciente deve receber boa orientação quanto à higiene
oral e bochechos com clorhexidina 0,12%17.
6 CONCLUSÃO
A Osteonecrose existe e cabe a
classe médica uma criteriosa avaliação quanto a prescrição dos bisfosfonatos.
É preconizado que o melhor
tratamento possível, até então, seja a prevenção da ocorrência e
desenvolvimento da mesma.
Todo paciente que necessitar
deste tipo de medicação deverá ser tratado de forma especial, necessitando de
acompanhamento e motivação no controle da higiene oral.
É importante a interatividade
entre o médico oncologista, o Cirurgião Dentista e o Bucomaxilofacial.
É fundamental que o Cirurgião
Dentista tenha conhecimento da relação entre o uso de bisfosfonatos e a
osteonecrose, tendo em vista a variedade de indicações que este fármaco possui
e a alta probabilidade de se deparar com pacientes que estão sob tratamento com
este medicamento.
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Referências em Mais Informações:
REFERÊNCIAS
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Wiffen PJ. Bisphophonates for the relier of pain secondary to bone metastases
[Cochrane Review]. Cochrane Database Syst Rev.2004;(2).
El cáncer colorrectal, el cáncer del intestino grueso, es el cuarto cáncer más común en América del Norte. Muchos casos de cáncer colorrectal están asociados con bajos niveles de actividad física y con dietas bajas en frutas y verduras. Las personas con antecedentes familiares de la enfermedad tienen un mayor riesgo. Me desmoroné con esta enfermedad durante 5 años y también con muchos pensamientos aterradores en mi cabeza porque estaba esperando la muerte todos los días de mi vida hasta que mi hijo vino a mí en el hospital explicándome que había encontrado un curandero de hierbas de Nigeria para curar mi cáncer colorrectal. Mi hijo me pidió que lo dejara probar porque hemos escuchado muchos estafadores que pretenden curar todo tipo de enfermedades con hierbas medicinales y algunos de ellos nunca consiguen un resultado positivo al final de todo, pero teníamos mucha confianza en este médico de hierbas, como dije que lo probáramos y me envió una medicina de hierbas para beber durante tres semanas. Estoy compartiendo este testimonio aquí para que la gente que está enferma se ponga en contacto con este hombre maravilloso, su nombre es Dr. Itua. Y su contacto es Whatsapp_+2348149277967____Email_drituaherbalcenter@gmail.com.
ResponderExcluirÉl puede curar esas enfermedades como:
Cáncer de vejiga
Cáncer de mama
Cáncer colorrectal
Cáncer de riñón
Leucemia
Cáncer de pulmón
Linfoma no Hodgkin
Cáncer de próstata
Cáncer de piel
Cáncer de útero
VIH/Sida
Golpe
Herpes
Hepatitis
Hechizo de amor
Diabetes