Existem cinco etapas importantes
para a realização do Transplante.
Passo a Passo do Transplante de
Medula Óssea
-1º Etapa: Fase
Pré-TMO:
A fase antes do transplante
consiste em reuniões com médicos (oncologistas, hematologistas e pediatras),
enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, nutricionistas, para discussão do
caso.
Em um segundo momento, são
realizadas reuniões com os pacientes e familiares para esclarecer os
procedimentos que serão realizados, além da apresentação da equipe
multidisciplinar. A família recebe orientações sobre como lidar nos períodos de
internação do paciente e sobre a importância da colaboração e auxílio nas atividades
diárias.
Após o esclarecimento, o paciente
ou o responsável legal assina o termo de Consentimento Informado, e então,
acontece o agendamento do transplante.
Para iniciar o tratamento, o
paciente necessitará de um cateter venoso para viabilizar o recebimento de
quimioterapia, transfusões, antibióticos, medicamentos e principalmente o
transplante da medula.
Na fase pré-transplante acontece
o chamado condicionamento, que é quando o paciente prepara o seu corpo para
receber as células sadias da medula óssea por meio do transplante. O
condicionamento é realizado com altas doses de quimioterapia e em alguns casos
radioterapia, com a finalidade de destruir todas as células imunes para o
recebimento de uma nova medula óssea.
Durante o período de
quimioterapia e/ou radioterapia, o paciente poderá apresentar alguns efeitos
colaterais ou não apresentar nenhum. Vamos apresentar os efeitos mais comuns e
algumas dicas para diminuir o mal estar causado pelos sintomas.
1. Náuseas,
vômitos e perda de apetite
Quando
ocorrer, é importante que o paciente siga as seguintes recomendações:
- Se alimentar
de três em três horas, priorizando alimentos pouco temperados;
- Comunicar
sempre a equipe médica para que possa ser medicado;
- Manter uma
boa alimentação, pois seu organismo necessitará de forças para se recuperar;
- A falta de
apetite ou a não sensibilidade para sentir o sabor dos alimentos é um efeito
temporário.
2. Mucosite
São feridas
que podem ocorrer em todo trato gastrointestinal, da boca até o ânus. As
recomendações a baixo são para ajudar a evitar a ocorrência de mucosite na boca
e garganta, que são os locais mais frequentes.
- Escovar os
dentes de forma delicada ao se levantar, após a ingestão de qualquer alimento e
antes de dormir;
- Realizar os
bochechos e gargarejos nos horários e com as soluções fornecidas pelo hospital;
- Manter a
boca hidratada. Para isso é necessário a ingestão de no mínimo dois litros de
água por dia.
3. Diarreia
Pode ser
considerado, quando ocorrem episódios de fezes líquidas ou aumento de frequência
das evacuações durante o dia.
-
Primeiramente é preciso comunicar a enfermagem da ocorrência da diarreia e
quaisquer outras alterações, como sangue ou muco nas fezes;
- Utilizar
comadre / papagaio em caso de fezes líquidas, para que possam ser avaliadas
pela enfermagem;
- Após evacuar, não usar papel higiênico.
Realize sua higiene no chuveiro ou utilize compressa macia umedecida (não a
reutilize). Isso tem a finalidade de
impedir que fiquem resíduos de fezes na região do ânus, o que poderia resultar
em infecção, evitando também assaduras e feridas na pele e mucosa, que já fica
sensível por causa da ação da quimioterapia ou radioterapia.
4. Obstipação
Intestinal (Mau funcionamento do intestino)
É importante
que o paciente comunique diariamente o número de vezes que evacua e a
consistência das fezes para acontecer o acompanhamento do seu hábito
intestinal. Só assim poderão ser tomadas as medidas preventivas para
obstipação.
É de suma
importância que evite a ocorrência de obstipação, pois as fezes endurecidas
podem provocar feridas no ânus, levando a sangramento e infecção, além de
tornarem a evacuação bastante dolorosa.
Evite ficar
deitado por muito tempo, procure beber bastante líquido e andar pelo quarto,
isso ajuda no funcionamento do intestino.
5. Alopécia
(Perda dos Cabelos)
A perda de
cabelos pode ocorrer no corpo inteiro ou ficar restrita a uma área. É um
problema estético que não pode ser evitado, porém não deve ser supervalorizado,
pois é temporário e não representa risco para o paciente.
O cabelo do
paciente certamente cairá durante o transplante, pois trata-se de um efeito
colateral do tratamento. Pode causar desconforto, além do risco de propiciar
infecções devido aos fios que entram em contato com o cateter. Torna-se
imprescindível que o paciente raspe o cabelo e corte as unhas, antes do início
do tratamento.
-2º Etapa: O Dia Do
Transplante: Infusão da Medula Óssea (D Zero)
Após o paciente condicionar sua
medula, ele receberá uma nova medula sadia, como se fosse uma transfusão de
sangue por meio do cateter. O dia da transfusão é feito no Dia “zero”, um novo
dia de aniversário para o paciente. As células-mãe transfundidas são levadas
pela corrente sanguínea e se encaminham até a medula óssea, local cujo irão se
instalar e começar o processo de recuperação.
A medula óssea após a coleta é
acondicionada e transportada em bolsa como as bolsas de sangue. Nela, além da
medula, há um líquido conservante que poderá causar alguns sintomas, como:
náuseas, vômitos, sensação de calor, desconforto na garganta, tosse seca,
formigamento, entre outros. Ainda pode acontecer alteração da pressão arterial
e dos batimentos cardíacos, para tanto, é necessário que o paciente seja
monitorado.
O transplante é um procedimento
rápido que dura em média 2h, “semelhante a uma transfusão de sangue”. Se as
células transplantadas forem de cordão umbilical, o procedimento é realizado em
20 minutos. O paciente pode escolher algum familiar para estar presente no
momento do transplante.
Após o TMO, o paciente fica muito
frágil, portanto ele deve ser mantido internado no hospital para receber os
cuidados e monitoramento necessários.
Alguns cuidados especiais são
realizados neste período:
- Controle dos
sinais vitais, como temperatura, pulsos, respiração e pressão arterial.
- Controle de
líquidos recebidos e eliminados. O paciente deverá anotar todo líquido que
beber e reservar a urina em um recipiente.
Este procedimento é importante para a equipe médica avaliar a função
renal.
- Controle de peso para avaliar diariamente as
condições nutricionais evitando a desidratação e desnutrição do paciente.
O paciente precisa colaborar,
pois condutas médicas serão tomadas com base nessas informações. O paciente
precisa acompanhar o tratamento, pois decisões médicas serão tomadas com base
nas informações.
3º Etapa: Período
Pós-Transplante
Esta fase é conhecida como
aplasia medular, caracterizada pela queda do número de todas as células do
sangue (hemácias, leucócitos e plaquetas).
A quimioterapia provoca a queda
da produção de todas as células do sangue, das doentes e das sadias. O baixo
número de leucócitos, principalmente os neutrófilos (um tipo de leucócitos),
deixa sujeito às infecções bacterianas, fúngicas, virais e protozoários. Neste período, o paciente fica incapaz de se
defender das infecções, recebendo, assim, inúmeros antibióticos.
É comum que o paciente apresente
febre, tremores e calafrios. Nos picos de febre, são colhidas amostras de
sangue para identificação do agente causador da infecção. Esse procedimento
auxilia no combate da infecção com a medicação específica.
Durante o período em que as
células transplantadas ainda não são capazes de produzir as células sanguíneas
em quantidade suficiente, o paciente recebe suporte por meio de transfusões das
hemácias e plaquetas, além de receber medicamentos que estimulam a produção dos
leucócitos, importantes para defesa contra infecções. Esta fase é delicada,
pois o paciente se encontra sujeito a infecções e sangramentos, por isso os
cuidados a seguir são de extrema importância:
- Reforço dos cuidados com a higiene;
- Usar máscara
quando for necessário se ausentar da unidade de transplante (TMO);
- Limitar o
número e frequência de visitas;
- Evitar
contato direto com outras pessoas (beijos, abraços, proximidade ao falar, etc);
- Usar roupas
e toalhas limpas;
- Lavar sempre
as mãos, principalmente após ir ao banheiro e antes das refeições;
- Manter-se
ativo, evitando ficar deitado por muito tempo, assim estará prevenindo a
infecção pulmonar;
- Não se coçar
e não espremer espinhas.
Para evitar sangramentos, é preciso que tome alguns cuidados:
- Evite
movimentos bruscos, para assim evitar a ocorrência de quedas e ferimentos;
- Não utilize
de lâminas para se barbear ou depilar;
- Não retire
cutículas e não corte as unhas rentes;
- Mantenha-se
ocupados com atividades seguras (leitura, crochê, jogos);
- Escove
delicadamente os dentes e não utilize fio dental;
- Não retire
peles soltas ou crostas de feridas;
- Comunique
caso ocorra a menstruação, outros sangramentos ou hematomas;
- Secreções,
dores, feridas, cansaço, tonturas, tremores e calafrios, devem ser comunicados
à enfermeira.
4º Etapa:
"Pega Medular" ou recuperação da medula óssea e prevenção da rejeição
‘Pega Medular’ é o momento após a transfusão
das células da medula, quando a medula já consegue produzir as células do
sangue em quantidades suficientes. A ‘pega’ da medular acontece quando a taxa
de plaquetas alcança 20.000/mm³, sem necessidade de transfusão por dois dias
seguidos e quanto os leucócitos ficam acima de 500/mm³, por dois dias também.
É importante saber que o tempo de
recuperação é variável, cada caso é um caso. Dependendo do tipo de transplante
e da fonte de célula, o prazo para recuperação pode ser modificado. Existem
também medulas mais ‘preguiçosas’ e outras mais precoces. O paciente deve ter
paciência, fazer a sua parte e acompanhar, perguntando ao médico como sua
medula está trabalhando.
Após a recuperação da medula
(‘pega’), pode ser que sejam necessárias transfusões e uso de medicamentos na
veia, assim o paciente recebe a medicação no hospital durante o dia e pode
voltar para casa.
A complicação mais usual do
transplante de medula óssea está associada ao problema de incompatibilidade.
Ela é denominada de Doença de Enxerto Contra Hospedeiro (DECH) ou
GVHD(graft-versus-host disease do inglês), popularmente conhecido como
rejeição. Acontece que as células do
paciente reconhecem as células do doador como ‘estranhas’ e desencadeiam uma
resposta imunológica contra o organismo do paciente.
A rejeição atinge principalmente
a pele, trato gastrointestinal e fígado. A DECH acontece porque a medula óssea
produz linfócitos (um tipo de leucócitos) que estão aptos a reconhecer o que é
estranho ao organismo. Após o transplante, a nova medula óssea produz os
linfócitos, que reconhecem o organismo do paciente como estranho, o que
acarreta uma resposta imune que acaba destruindo e agredindo as células de
alguns tecidos e órgãos do paciente.
Para evitar a ocorrência de uma
forte rejeição, são prescritos aos pacientes remédios anti rejeição, chamados
também de imunossupressores, que são capazes de diminuir as ações das células
transplantadas contra o organismo do paciente.
A rejeição em suas formes leves e
limitadas são importantes para a prevenção da recaída da doença. Os linfócitos produzem
um efeito protetor, agredindo assim, as células doentes, levando a uma menor
chance de recaída. Essa resposta é denominada efeito Enxerto X Leucemia
(graft-versus-. leukemia effect- GVL no inglês).
Vale ressaltar que a Doença
Enxerto Versus Hospedeiro é maior quando a diferença do doador na
compatibilidade é maior, portanto se relaciona ao exame de compatibilidade
(HLA).
No transplante autólogo não já
rejeição, já que a medula transplantada é do paciente-receptor.
5º Etapa: Cuidados
Após Alta
A alta hospitalar é muito
desejada, mas também pode gerar muito medo e inseguranças. Você será preparado
para se cuidar em casa.
Após a alta, é importante que se
tome certos cuidados em casa. Listamos os mais importantes:
- Tomar os
medicamentos rigorosamente como foram prescritos pelo médico. Quando sair de
casa, leve os medicamentos com você para que possa tomá-los nos horários
corretos;
- Se encontrar
dificuldades em tomar os medicamentos, não pare de tomar, mas é importante que
o paciente comunique a equipe médica.
- É de extrema
importância que a casa esteja limpa antes da chegada do paciente;
- Nos três
primeiros meses, o paciente, de preferência, precisa ter um banheiro individual
limpo;
- Use protetor
solar FPS 30 ou 50 em todas as partes que serão expostas ao sol, quando sair de
casa, mesmo se for permanecer na sombra;
- Ao caminhar,
evite horários de sol forte;
- Reduzir ao
máximo o número e a frequência de visitas em casa, pelo menos nos dois
primeiros meses após o TMO;
- Evitar
locais com fluxo grande de pessoas, como por exemplo, shoppings, shows, casas
noturnas, restaurantes cheios, entre outros. Pelo menos nos cem primeiros dias
após o transplante;
- Muito
importante que o paciente siga as orientações de seu médico!
- Evitar o
contato com crianças pequenas, pois elas podem transmitir algumas doenças, como
catapora, sarampo, caxumba;
- Não entrar
em contato com pessoas que receberam em menos de um mês vacinas contra sarampo,
rubéola e Sabin (poliomelite). Pois estas vacinas utilizam o vírus atenuado, o
que poderá provocar doença;
- Não manter
contato com animais;
- Evite ficar
deitado, acamado. Procure atividades que lhe deem prazer e que sejam seguras,
como leitura, jogos, tricô, atividades no computador, entre outros.
- Não entrar
em contato com pessoas gripadas ou com febre ou tosse;
- Como já
dito, não retirar cutículas, nem fazer depilação ou se barbear enquanto o
número de plaquetas estiver menor que 50.000 (Esta informação será dada pelo
seu médico);
- Não usar
absorvente interno;
- Retomar
atividade sexual apenas quando a contagem de leucócitos e plaquetas estiver
normalizada (Esta informação também será dada pelo seu médico);
É importante
avisar seu médico, caso:
- A
temperatura corporal estiver maior que 37,8 C;
- Tremores e
calafrios, mesmo sem febre;
-Tosse,
catarro e falta de ar;
- Diarreia;
- Enjoos e
vômitos frequentes;
- Presença de sangramento (nasal, nas fezes,
urina ou boca);
- Presença de
pontos vermelhos pelo corpo;
- Presença de secreção, vermelhidão, coceira
ou dor no local do cateter;
- Ocorrência
de acidentes domésticos;
- Ocorrência
de tonturas, fadiga, palpitações, dores persistentes ou ardor para urinar ou
evacuar;
- Aparecimento
de alterações na pele (vermelhidão, descamação, coceira, bolhas e feridas).
- Lembre-se
que seu sistema de defesa é totalmente novo, ainda não está preparado para
exercer uma defesa eficiente. Considere-se frágil como um bebê. No decorrer do
primeiro ano sua defesa estará se recuperando e só depois, é que você vai
receber as vacinas para aprimorar suas defesas.
É muito
importante que você faça a sua parte! O Sucesso do seu tratamento também
depende de você!
As complicações após o transplante são
frequentes e esperadas. O acompanhamento cuidadoso permite que muitas destas
alterações sejam detectadas precocemente e tratadas de forma adequada.
A reintegração do transplantado à
sociedade deve ser considerada tão importante quanto o acompanhamento da
doença. O apoio dos familiares e dos grupos multidisciplinares se torna
fundamental para a recuperação do indivíduo e para a melhoria da qualidade de
vida dele.
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