Transplante de medula óssea evolui e
gera esperanças
O
mau funcionamento da medula óssea e a produção inadequada das células
sanguíneas podem resultar em variadas doenças hematológicas. Leucemia, mieloma
múltiplo, linfoma e anemia aplástica são algumas delas. Nas situações mais
graves, a esperança recai sobre um determinado procedimento médico: o
transplante de medula óssea.
A
medula óssea ocupa a cavidade dos ossos chatos. Ali são produzidas as células
hematopoiéticas, consideradas células-tronco adultas (somáticas) porque possuem
a capacidade de se diferenciarem nas demais células sanguíneas. No Brasil,
cerca de 2 mil transplantes são realizados por ano. “É um procedimento de risco
para o receptor e só é indicado em determinadas circunstâncias”, diz Evandro
Fagundes, hematologista do Hospital das Clínicas da UFMG.
O
médico explica que há duas modalidades possíveis. No transplante autólogo, a
medula transplantada é retirada do próprio paciente quando a doença está
controlada. O transplante alogênico utiliza a medula de outra pessoa. Nesse
caso, a principal dificuldade está na busca de um doador que tenha
compatibilidade com os Antígenos Leucocitários Humanos (HLA). As chances de
irmãos de mesmo pai e mesma mãe serem compatíveis são de 25%. Quando não há
doadores aparentados, a alternativa é a busca nos bancos de medula óssea, que
cadastram o HLA de voluntários. Em 1993, o Ministério da Saúde lançou o
Registro Brasileiro de Doadores de Medula Óssea (Redome), que já é o terceiro
maior banco do mundo, com mais de dois milhões de doadores cadastrados, ficando
atrás dos Estados Unidos e da Alemanha.
Um
avanço dos últimos 5 anos é o crescimento dos bancos públicos de sangue do
cordão umbilical e placentário. Eles realizam uma seleção aleatória de
recém-nascidos e coletam o material quando autorizados pelos pais. O
transplante de medula óssea utilizando esse tipo de sangue tem uma grande
vantagem. “As células hematopoiéticas do cordão umbilical são mais imaturas.
Por isso, são mais tolerantes em relação a alguma disparidade no HLA e a
rejeição é menor”, explica Evandro Fagundes.
Todo
o material armazenado nesses bancos públicos é disponibilizado para quem
precisar e não apenas para o doador do cordão umbilical. O mesmo pode não
acontecer com os bancos privados, o que gera críticas de Evandro Fagundes.
“Muitas vezes, a lógica que predomina é a do lucro. Alguns não são bancos que
surgem envolvidos por um compromisso social. São oriundos de um interesse
econômico próprio e, por vezes, fazem uma exploração publicitária desumana,
oferecendo o congelamento do cordão umbilical do bebê como se fosse um seguro
de vida”, desaprova o médico.
Anemia Falciforme
Para
muitos portadores de anemia falciforme, o transplante de medula óssea é uma
esperança que pode se concretizar. O Ministério da Saúde está propenso a
autorizar o SUS a realizar o procedimento em determinados casos. Existe um
parecer favorável da Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea
(SBTMO). “Não é uma decisão simples. É uma intervenção de risco que pode levar
ao óbito. Mas existem casos onde a necessidade é tão flagrante que não há por
que essa decisão demorar”, diz Marcos Borato, professor da Faculdade de
Medicina da UFMG e pesquisador do Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio
Diagnóstico (Nupad).
Marcos
Borato: "em alguns casos, a necessidade de transplante para portadores de
anemia falciforme é tão flagrante que não há por que a decisão demorar".
O
transplante de medula óssea em portadores de anemia falciforme teve origem nos
Estados Unidos e na Europa. No Brasil, por enquanto, só é possível realizá-lo
através de planos particulares ou de investimentos próprios. O custo varia
entre R$60 e R$80 mil.
Na
opinião de Marcos Borato, o aspecto racial e econômico pode explicar porque o
transplante para portadores de anemia falciforme teve desenvolvimento lento.
“Nos anos 90, a Itália se tornou referência no transplante para portadores de
talassemia que, assim como a anemia falciforme, é uma doença genética
caracterizada pela produção inadequada de células sanguíneas. Mas a talassemia
atinge principalmente brancos da região mediterrânea, de classe econômica mais
elevada. Já a anemia falciforme tem maior incidência na população negra e
pobre, com ascendência africana, embora possa estar presente em pessoas de cor
branca, bastando que elas herdem o gene responsável”, explica.
Um pouco de história
Embora
a medula óssea seja estudada desde meados do século XX, o primeiro transplante
bem sucedido do mundo foi realizado somente em 1968, por uma equipe de médicos
da Universidade de Minnesota chefiados por Robert Good. O paciente era então um
recém-nascido e portador de SCID – Imunodeficiencia Severa Combinada, doença
hereditária.
Antes,
já haviam sido realizados experimentos importantes. Em 1959, o oncologista
francês George Mathé tratou com infusão de medula óssea trabalhadores de um
instituto nuclear expostos acidentalmente a altas doses de radiação. Nenhum
deles sobreviveu, mas observou-se a produção de novas células sanguíneas por
cerca de um mês.
No
Brasil, a instituição pioneira no procedimento foi o Hospital das Clínicas da
Universidade Federal do Paraná (UFPR) que realizou a façanha em 1979. Em Minas
Gerais, o primeiro transplante de medula óssea foi realizado pelo Hospital das
Clínicas da UFMG, em 1995. Desde então, a instituição já contabiliza mais de
720 transplantes.
[Faculdade
de Medicina da UFMG]
MEU TRANSPLANTE AUTÓLOGO FOI RELIZADO NO HC DA UFMG,EM 06/2005, PELA EQUIPE DO DR. EVANDRO FAGUNDES (HEMATOLÓGICA) COM 100% DE SUCESSO.
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