Mieloma múltiplo:
Qual o grau de conhecimento sobre a
doença em médicos que atuam no sistema de atenção primária à saúde?
Ângelo Maiolino-
Universidade Federal do Rio de Janeiro
O
mieloma múltiplo (MM) é uma doença de distribuição mundial. Representa 1% de
todos os tipos de câncer, sendo o segundo mais comum entre os hematológicos,
ficando atrás apenas dos linfomas não-Hodgkin. Tem uma prevalência de 17 casos
a cada 100 mil indivíduos e estima-se que 15 mil novos casos/ano serão
diagnosticados nos Estados Unidos.1
Infelizmente,
dados epidemiológicos brasileiros não estão disponíveis. Nos últimos anos tem
sido feito um grande esforço para melhor se conhecerem as características
clínicas e demográficas do MM em nosso país, assim como tentar estabelecer
protocolos clínicos para o tratamento desta condição. Hungria e Cols efetuaram
um levantamento envolvendo 15 centros de Hematologia dedicados ao tratamento do
MM no Brasil. O objetivo deste estudo era o de melhor conhecer as
características dos pacientes acompanhados nestas instituições e tentar validar
o International Staging System (ISS) nesta população. No período de 1998 a
2004, um total de 1.017 pacientes com MM foi acompanhado nesses centros. A
mediana de idade ao diagnóstico foi de 61 anos (28-94). Nesse estudo, ficou
comprovado que a maior parte dos pacientes com MM no Brasil é diagnosticada em
estádios avançados de doença. Considerando o estadiamento de Durie e Salmon,
77% dos pacientes eram DS III, e, peloISS, 86% eram estádio 2 ou 3. É urgente, portanto,
um esforço para melhor divulgar o MM em nosso meio, já que o diagnóstico
precoce tem impacto em termos de sobrevida.2
Neste
fascículo da Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, Paula e Silva e
colaboradores3 verificaram, através de um inquérito epidemiológico, utilizando
testes de múltipla escolha, o conhecimento sobre aspectos diagnósticos
relacionados ao MM em um grupo de médicos que atuam na atenção básica à saúde
na cidade de Belo Horizonte.
Cento
e trinta e cinco médicos que atuam nesta rede responderam a um questionário que
tinha como objetivo avaliar o profissional perante cinco questões fundamentais:
(1) a conduta frente a um paciente com anemia, (2) a capacidade de realizar o
diagnóstico diferencial em um paciente idoso com lesões líticas, (3) a
capacidade de suspeitar de hipercalcemia diante de manifestações clínicas
sugestivas, (4) a interpretação da eletroforese de proteínas séricas e (5) a
capacidade de diagnosticar MM diante de um quadro clínico característico.
A
única questão que foi adequadamente respondida pelo grupo de médicos estudados
foi a de número 1, onde a maioria (94%) soube correlacionar o quadro de anemia
normocrômica e normocítica com as doenças crônicas e neoplásicas prevalentes
nesta faixa etária. Para todas as outras questões, menos da metade dos médicos
soube formular uma resposta adequada, sendo que as duas últimas (interpretação
da eletroforese e quadro clínico do MM), que estão diretamente relacionadas ao
diagnóstico da condição, foram respondidas por apenas 30% e 36% dos médicos,
respectivamente.
Fica
claro que, apesar de não se tratar de uma patologia rara, existe um profundo
desconhecimento acerca do MM exatamente no grupo de profissionais de saúde que
são, na maioria das vezes, os responsáveis diretos pelo atendimento aos
pacientes quando das suas primeiras manifestações clínicas. A nosso ver, é
imprescindível adotarmos uma estratégia de melhor divulgação da patologia não
somente com os profissionais que atuam na área básica, mas também com os especialistas
(ortopedistas, reumatologistas, nefrologistas, neurologistas) que
frequentemente recebem pacientes com manifestações clínicas que podem sugerir
um diagnóstico de mieloma múltiplo.
Referências
Bibliográficas
1. Criteria
for the classification of monoclonal gammopathies, multiple myeloma and related
disorders: a report of the International Myeloma Working Group. Br J Haematol
2003;121(5):749-57. [ Links ]
2. Hungria
V, Maiolino A, Martinez G, Colleoni GW, Pasquini R, de Souza C et al;
International Myeloma Working Group Latin America. Confirmation of the utility
of the International Staging System and identification of a unique pattern of
disease in Brazilian patients with multiple myeloma. Haematologica
2008;93:791-2. [ Links ]
3.
Paula e Silva RO, de Faria RMD, Côrtes MCJW, Clementino NCD, Faria JR, Moraes
TEC et al. Mieloma múltiplo: Verificação do conhecimento da doença em médicos
que atuam na atenção primária à saúde. Rev Bras Hematol Hemoter.
2008;30(6):437-44.
INFELIZMENTE ESTA É A RELIDADE NO BRASIL, A BAIXA E MTAS VEZES INEXATA NOTIFICAÇÃO IMPOSSIBILITA QQUER ESTATÍSTICA, ALÉM DO "NÃO PENSAR" EM DETERMINADAS PATOLOGIAS POR MÉDICOS EM DIVERSAS ESPECIALIDADES E PRINCIPALMENTE POR CLÍNICOS RESPONSÁVEIS PELA ATENÇÃO BÁSICA.
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